quarta-feira, 1 de setembro de 2021

O Exercício da Colegialidade nas Equipes de Nossa Senhora | I – AS RAÍZES DA COLEGIALIDADE


 A Igreja convida nosso Movimento a se perguntar como poderá anunciar Cristo e seu Evangelho ao casal, agora que temos mais consciência de fazer parte de uma humanidade única, mas, ao mesmo tempo, marcada pelo pluralismo das línguas, das culturas e das nações. 

Se o Evangelho quer ser entendido pelo casal em todas as culturas, é preciso refletir na colaboração que se espera de nós no plano da evangelização, de modo que se leve em conta a diversidade dos responsáveis participantes da mesma busca de unidade. 

Procurando as raízes da Colegialidade, podemos identificar pelo menos três fontes principais: na linguagem jurídica, na linguagem oficial da Igreja, e na linguagem das Escrituras.

A) Na linguagem jurídica 

A “Collegialitas” encontra-se na linguagem jurídica, nos meios universitários e nas profissões médicas, que devem tomar decisões em comum. Neste contexto, a Colegialidade é a propriedade em virtude da qual um grupo autorizado possui, na alçada da sua competência, as atribuições necessárias para tomar decisões, soberanas ou não, em nome da sociedade no seio da qual exerce a sua atividade. 

B) Na linguagem oficial da Igreja

 O número 22 da Lumen Gentium fala do Colégio formado pelo Papa, sucessor de São Pedro, e pelos bispos, sucessores dos Apóstolos; é o que se conhece sob o nome de “colegialidade” à maneira do Colégio Apostólico. 

• Todos os Bispos juntos constituem um Colégio, um corpo, uma ordem, e este Colégio sucede ao Colégio Apostólico para o magistério e para o governo pastoral da Igreja; é presidido pelo Papa, que é sua cabeça. Solidariamente e sempre com o Papa, o Colégio dos Bispos exerce o seu poder sobre toda a Igreja.

• Os Bispos tornam-se bispos, de maneira legítima, em virtude da consagração sacramental e pela comunhão hierárquica com a Cabeça do Colégio e com os seus membros.

• A condição essencial da Colegialidade, no sentido mais forte do termo, entre o Papa e os outros bispos, é a comunhão hierárquica com o Papa, pois é o Papa que chama os bispos a tomar uma decisão colegial; ou então é ele quem deve aceitar e validar o que os mesmos Bispos decidiram em conjunto.  

O número 23 fala da prática da Colegialidade entre os bispos, do que se chama colegialidade solidária, ou espírito colegial (em latim affectus collegialis). 

A Colegialidade entre o Papa e os Bispos, de que nos fala o número 22 da Constituição Lumen Gentium, não pode ser diretamente comparada com a Colegialidade entre os casais da ERI, nem com a Colegialidade entre os casais do Colégio ERI-SR

A razão é evidente: o caráter apostólico da Igreja significa que esta é estruturada sobre a base do ministério hierárquico, à maneira do Colégio apostólico formado por São Pedro e pelos outros apóstolos; nós, porém, Equipes de Nossa Senhora, somos uma associação de fiéis reconhecida na Igreja, formada por leigos casados, de direito privado, na qual deve valer o princípio: “O que diz respeito a todos deve ser decidido por todos”. 

Tudo isto leva-nos a procurar na fonte primeira, que são as Escrituras, as raízes profundas da nossa Colegialidade.  



C) Na linguagem das Escrituras 

Fazendo apelo à linguagem bíblica, embora não encontremos aí uma referência explícita ao conceito da Colegialidade, recolhemos, contudo, vários textos relacionados com as experiências de vida comunitária; o que nos permite aproximar-nos progressivamente e com relativa precisão do conceito: 

O sentido do serviço: 

Na linguagem do Novo Testamento, está claro que Jesus não privilegia a autoridade, mas insiste no sentido do serviço: “Sabeis que os chefes das nações as dominam e os grandes fazem sentir seu poder. Entre vós não deverá ser assim. Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós, seja vosso escravo. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos” (Mt 20, 25-28). De tudo isso o Mestre deu-nos exemplo: “Vós me chamais de Mestre e Senhor; e dizeis bem, porque sou. Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais assim como eu fiz para vós” (Jo 13, 13-15). De tudo o que foi dito, resulta o princípio “de igualdade” entre os irmãos na fé. 

É por isso que nós não devemos falar de “poder”, mas de “serviço”. 

A unidade entre Cristo e a Igreja 

Eis um outro princípio claro: a união da comunidade de fé não se obtém por si própria, mas no espírito de Cristo. “Eu sou a videira e vós, os ramos. Aquele que permanece em mim, como eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15, 5). 

Nós somos, ao mesmo tempo, os arquitetos e os operários na construção do Reino de Deus. “Mas cada qual veja bem como está construindo de fato, ninguém pode colocar outro alicerce diferente do que já está colocado: Jesus Cristo” (1 Cor 3, 10-11). 

E, durante a construção, nosso dever como construtores, é de nos manter unidos:

 “solícitos em guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef. 4,3). 

Os carismas ao serviço da comunidade 

Embora sejamos todos iguais perante Deus, somos providos de diferentes carismas ou talentos (Mt 25, 14-27), que são dons de Deus: “A cada um é dada a manifestação do Espírito, em vista do bem de todos. A um é dada pelo Espírito uma palavra de sabedoria; a outro, uma palavra de conhecimento segundo o mesmo Espírito; a outro... Todas essas coisas as realiza um e o mesmo Espírito, que distribui a cada um conforme quer” (1Cor 12,7-11). Estes dons devem ser postos a serviço da comunidade: “Ninguém traz uma lâmpada para colocá-la num lugar escondido ou debaixo de uma vasilha; coloca-a no suporte, a fim de que os que entram vejam a claridade” (Lc 11,33).  

A função profética da Colegialidade

 “Sabeis, pois, distinguir muito bem os aspectos do céu; mas não reconheceis os sinais dos tempos!” (Mt 16,3). É o papel profético de toda comunidade de fé. À medida que os tempos mudam, apresentam-se novas circunstâncias, novas necessidades, novas oportunidades, novos desafios... e cabe à comunidade de fé produzir por graça respostas novas ao exercício e à prática da Colegialidade.  

Um exemplo de Colegialidade 

Finalmente encontramos nos Atos dos Apóstolos (15,1-34) um belo exemplo do exercício da Colegialidade. Isso teve lugar por ocasião da vinda a Antioquia de alguns discípulos da Judeia que ensinavam aos irmãos: “Se não fordes circuncidados, como ordena a Lei de Moisés, não podereis ser salvos”... Então os Apóstolos e os anciãos reuniram-se para examinar este assunto e após uma longa discussão, de acordo com toda a Igreja, decidiram escolher alguns dentre eles e enviá-los a Antioquia com Paulo e Barnabé... portadores de uma carta dizendo: “Pois decidimos, o Espírito Santo e nós, não vos impor nenhum fardo, além destas coisas indispensáveis...” (cf. At 15,1...29). As Escrituras confirmam aqui o verdadeiro sentido da colegialidade, segundo a qual é a comunidade unida no Espírito que decide, inspirada por Ele, o que é mais apropriado para o bem de todos. 



Retirado do Acervo de Formação do site das ENS (ens.org.br). O próximo capítulo será publicado em breve, mas caso queira ler na íntegra, acesse o link https://www.ens.org.br/site/arquivos/acervo/O_Exercicio_da_Colegialidade_nas_ENS.pdf

Veja também as publicações anteriores sobre este mesmo assunto na página principal do blog.


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